O VAGO
O Vago é a essência que, saudosa, ondeia,
Em derredor do cálix duma flor,
É a oração que ascende e paira e anseia,
Na tarde mística a evolar-se em cor...
O Vago é como o instinto de quem leia
Nuns olhos virgens a expressão do Amor,
O Vago é a luz que as almas incendeia,
A Alegria sonhando com a Dor...
É o silêncio da noite a certas horas,
O choro lucilante das auroras
Na árvore que deixou cair os pomos...
É não ter voz, falar e ser a Esfinge,
Olhar e já não ver o que nos cinge;
O Vago é o estranho além do que nós somos!
Selecção de Poemas - Tomás Salavisa