O compromisso assinado com a Troika obriga o Governo a operar uma profunda reestruturação no poder local, que deve estar concluída até ao próximo acto eleitoral autárquico em 2013. O poder local foi muito apreciado e enaltecido nos seus primeiros anos de vida, porque, de um modo geral, mudou, de maneira significativa, municípios e freguesias, criando infra-estruturas valiosas para o bem estar das populações. Mas muitos dos autarcas agarraram-se ao poder como lapas às rochas e, com o passar dos anos foram perdendo ideias e fogo, começando a envolver-se em tramas nada dignificantes. Existem actualmente 251 empresas municipais, 125 das quais se encontram em falência técnica. Estas empresas serviram, essencialmente, para acolher boys e girls a quem são proporcionados salários milionários a troca de nada. Construiram obras megalómanas, auditórios, pavilhões multiusos, piscinas, de duvidoso interesse para as suas populações, apenas porque o concelho vizinho já possuía essas estruturas. Pejaram os serviços de funcionários, pagando favores às clientelas que os elegeram. E porque, se autodenominando os escolhidos do povo, entendiam que tudo podiam fazer e estavam acima de todas as críticas, desprezavam o escrutínio dos munícipes. Muito recentemente soube-se que um presidente de câmara do litoral alentejano nomeou para o seu gabinete o próprio filho e um autarca de um município da Grande Lisboa contratou diversos familiares íntimos para exercerem funções na sua autarquia. Aliás na nossa Terra também um antigo autarca deu emprego àquela com quem viria a casar, sua ex-funcionária, bem como a familiares próximos da referida senhora. E mais, a antigos empregados, que por lei deveria indemnizar devido ao encerramento das suas empresas, arranjou-lhes colocação na autarquia. Estes factos contribuem para a má imagem dos autarcas e, por consequência, grande parte da população vê com agrado a extinção de autarquias e freguesias.
Tiago Paisana