SONHO
A sua presença de mulher foi-se ausentando...
A um gesto seu, diáfano, alou-se o sofrimento...
Tudo era a sua voz, mas sem significar
mais que o murmúrio dum encantamento...
Prendia-nos um fio de segredo, murmurando
pelos seus olhos baixados, antes dum sorriso,
com que a meus olhos as coisas se velaram
para lá do seu rosto assim preciso...
Pudor na sua alma ou nos meus dedos?
Como é indizível essa experiência de morrer!
O que me resta é regressar à Vida,
amá-la, delicadamente, como os mortos
-se os mortos pudessem reviver.
Selecção de Poemas - Tomás Salavisa