A polémica está instalada. Existe uma enorme vontade que o Governo, desde anteontem em gestão, solicite a intervenção de ajuda externa (diga-se FMI) para carregar com o ónus do pedido. Mas o Governo, do partido que breve também disputará eleições, recusa-se a dar tal passo, argumentando que as suas condições de pura gestão corrente não lhe permitem assumir esse pedido. Pelo meio ouvem-se variados constitucionalistas, uns dizem que está dentro das suas atribuições, outros respondem o contrário. O habitual nestas coisas. É evidente que o partido que se aponta como eventual vencedor das eleições de 5 de Junho não está interessado em ser o responsável pelo pedido de ajuda externa, que, como é sabido pelo que está a suceder na Grécia e na Irlanda, originará medidas de contenção duríssimas sobre todos os portugueses. A título de exemplo: subida de juros dos empréstimos do credito à habitação, despedimentos na função pública, restrições ao acesso, actualmente quase gratuito, dos serviços de saúde e do ensino, suspensão do pagamento do subsídio de Natal, aumentos incomportáveis nas tarifas dos transportes públicos, etc.. Agora não poderemos recorrer à desvalorização da moeda, como outrora foi feito. Ao governo que venha a sair do próximo acto eleitoral interessaria entrar em funções já sob a supervisão de uma entidade exterior de apoio financeiro, porque seriam efectuadas as medidas mais gravosas apoiadas na desculpa de terem sido impostas pelas instituições que nos estariam a financiar.
David Pires