Botequim ordinário, onde se vendia o café a dez reis cada xícara.

28
Fev 11

ACONTECEU QUE A MORTE

 

Aconteceu que a morte

imperava em qualquer parte.

Não na tua casa, ou em outra,

ou em redor de alguém.

 

Estava ali, deitada

como um pássaro cego.

Todo o país seu ninho

queriam sujas mãos.

 

E sucedeu sem ar, 

sem luz, através de nós,

a multidão de esforços

lhe deu despacho e forma.

 

Cumpriram-se os fados,

nada manteve o lugar.

Porque feriram, cegaram,

os assassinos de luzes.

 

 

Selecção de Tomás Salavisa

 

 

publicado por Café de Lepes às 09:55

19
Fev 11

ALI

 

Ali sofreste. Ali amaste.

Ali é a pedra do teu lar.

Ali é o teu, bem teu lugar.

Ali a pedra onde jogaste

o que o destino te quis dar.

 

Ali ficou tua pegada

impressa, firme, sobre o chão.

Ninguém a vê sob o montão

de cinza fria e poeirada?

Distingue-a, sim, teu coração.

 

Podem talvez o vento, a neve,

roubar a flor que tu criaste?

Ali sofreste. Ali amaste.

Ali sentiste a vida breve.

Ali sorriste. Ali choraste.

 

Selecção de Tomás Salavisa

publicado por Café de Lepes às 16:43

14
Fev 11

O caso da senhora morta há nove anos e depositada na sua casa tem feito surgir, em catadupa, novos episódios semelhantes ou quase. Não culpemos o Estado, nem a Segurança Social, nem o Ministério das Finanças, nem as Juntas de Freguesia, a quem não  compete, nem têm meios, para velar pelos velhos. Atiremos pedras, e grandes, ao Ministério da Justiça e forças policiais, pelo seu comportamento que, nem de burocrático se pode denominar, mas de desprezo absoluto perante os cidadãos que com os seus impostos os sustentam. Culpe-se, acima de todos a família: filhos, irmãos, sobrinhos, primos, quem quer que seja, que só se lembram dos velhos para lhes sacar dinheiro, quando o têm, e lhes votam o mais completo desprezo se forem pobres como Job. Segundo os jornais, um familiar chegado da falecida da Rinchoa, anda em pulgas para sacar da casa os tarecos que por lá estão, mas não fez o que devia aquando do desaparecimento da sua parente.

 

David Pires 

publicado por Café de Lepes às 18:09

RETRATO

 

Cruel como os Assírios,

Lânguido como os Persas,

Entre estrelas e círios

Cristão só nas conversas.

 

Árabe no sossego,

Africano no ardor;

No corpo, Grego, Grego!

Homem, seja onde for.

 

Romano na ambição,

Oriental no ardil,

Latino na paixão,

Europeu por subtil:

 

Homem sou, homem só

(Pascal: "nem anjo nem bruto");

Cristãmente, do pó

Me levante impoluto.

 

Selecção de Tomás Salavisa

 

publicado por Café de Lepes às 16:19

11
Fev 11

"Em nome de Deus, o misericordioso, cidadãos, perante as difíceis circunstâncias que o Egipto atravessa, o Presidente Hosni Mubarak decidiu deixar o cargo de presidente e encarregou o Conselho Supremo das Forças Armadas de administrar o País. Que Deus ajude toda a gente." Esta a curta declaração do vice-presidente Omar Suleiman transmitida pela televisão. E agora? Alguém de bom senso acredita que foi apenas o Povo, sem qualquer força na rectaguarda, quem alimentou aquele intenso fogo. O que resultará daquele tremendo movimento, quase pacífico, consequência de um nível de vida baixíssimo e, portanto, de enormes dificuldades para a maioria dos egípcios. Espera-se que, do fervente caldeirão, não saia um movimento que invocando o Profeta transforme o Egipto num segundo Irão.

 

Carlos Canas

publicado por Café de Lepes às 23:50

07
Fev 11

MERINA

 

Rosto comprido, airosa, angelical, macia,

Por vezes, a alemã que eu sigo e que me agrada,

Mais alva que o luar de inverno que me esfria,

Nas ruas a que o gás dá noites de balada;

 

Sob os abafos bons que o Norte escolheria,

Com seu passinho curto e em suas lãs forrada,

Recorda-me a elegância, a graça, a galhardia

De uma ovelhinha branca, ingénua e delicada.

 

 

Selecção de Tomás Salavisa

publicado por Café de Lepes às 23:30

06
Fev 11

Já em tempos se tinha aqui referido que não basta criar uma marca. Importante também é fazê-la chegar ao grande público. E nos tempos que vão correndo não se trata de tarefa fácil. As grandes superfícies utilizam uma política de compras muito especial, querem comprar barato e pretendem pagar em  prazos dilatados,  pelo que nem todos os fornecedores estão dispostos ou podem aceitar estas condições. Além de que não é fácil entrar nos seus departamentos de compras. Vem isto a propósito para aquilo que nos acaba de relatar um nosso patrício que, desejando oferecer um presunto da nossa Terra, de boa qualidade, se lembrou de procurar nos grandes hiper-mercados uma perna de porco com a Marca Mação. Acontece que não conseguiu encontrar o tal produto em nenhum dos estabelecimentos localizados numa grande cidade. Parece pois que haverá ainda um grande caminho a percorrer para que a Marca Mação se implante no nosso mais conhecido circuito comercial, que são, sem qualquer dúvida, os hiper-mercados.

 

David Pires

publicado por Café de Lepes às 23:07

02
Fev 11

AVISO

 

Este estabelecimento vai encerrar, durante alguns dias. para proceder a obras necessárias.

 

A Gerência do Café de Lepes

publicado por Café de Lepes às 18:54

01
Fev 11

Madail afinal sempre se recandidata a novo mandato na Federação Portuguesa de Futebol. Neste País há um hábito muito disseminado do "daqui não saio, daqui ninguém me tira". Talvez a figura mais conhecida destas verdadeiras lapas seja o Alberto João Jardim, há dezenas de anos no poder, tantos que já se lhes perdeu a conta. Mas há mais, Rocha de Matos na Associação Industrial Portuguesa, já vem antes do 25 de Abril, Carvalho da Silva, que nos bons velhos tempos foi operário, agora é carreirista do sindicalismo na CGTP e com o Proença da UGT passa-se o mesmo, se bem que há menos anos. Nos sindicatos então é o máximo, há tantos anos que ouvimos soletrar os seus nomes que já os conhecemos de cor, Ana Avoila, Bettencourt Picanço, Luís Garra, etc..  E autarcas, se não fosse a lei ter sido alterada há poucos anos, muitos deles sairiam directamente das Câmaras para lares de terceira idade. Na nossa Terra, como não podia deixar de ser, também existem os lapas. Um carteiro, porque entregar cartas era cansativo,  passou a sindicalista para o resto da vida. A Filarmónica tem um presidente vitalício e o mesmo, em breve, acontecerá nos Bombeiros. E não há mais lapas porque os estatutos de determinadas instituições não o permitem, pois se assim não fosse, manter-se-iam nos lugares (como presidente os outros cargos não interessam) até ao fim da existência, com elevado sacrifício da sua vida privada, como gostam de afirmar.

 

Carlos Canas

publicado por Café de Lepes às 00:18

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