Botequim ordinário, onde se vendia o café a dez reis cada xícara.

31
Jan 11

Chegou quando a tarde principiava. O comboio largou-o numa estação incaracterística e desconfortável. Mais tarde veio a saber que nem de electricidade estava provida, com uma barragem a meia dúzia de quilómetros. Era um domingo de muito sol, mas frio rigoroso. Ao arrepio do que supunha, não existiam restaurantes. Matou a fome, com uma fritada de ovos e chouriço, numa casa de pasto localizada em rua esconsa e húmida. Dirigiu-se, de seguida, à hospedaria onde assentaria arraiais. Casa primitiva e sóbria onde lhe  forneceriam comida e dormida. Após o jantar, e valha a verdade uma excelente refeição, dirigiu-se ao café, ponto de encontro dos notáveis do sítio. Sentiu que era a novidade da noite. Aqueles olhares incomodavam-no. Saiu tão depressa quanto possível. Já no quarto, olhando as paredes nuas e brancas, pensou quanto tudo era diferente do que havia imaginado. Era o começo da aventura. O frio cortava.

 

Julião Mora

publicado por Café de Lepes às 17:36

30
Jan 11

Nesta Terra, para espanto de todos nós, são mais os automóveis estacionados que pessoas a circular pelas ruas. O visitante que aqui aporte em hora de labor e repare em tantos automóveis e tão reduzido movimento de gentes, há-de pensar que esta é uma Terra muito diligente e tudo está ocupado nos seus afazeres. Não será bem assim. Tantos carros para tão pouca gente é um grande mistério que não me cabe decifrar. A verdade é que a certas horas do dia o cidadão tem alguma dificuldade em parar o seu automóvel em zonas mais centrais. Um desses locais é, actualmente, o Largo dos Bombeiros, uma vez que o coração da Terra se transferiu, há já alguns anos, da Praça Gago Coutinho para o Cimo da Vila, como há muitos anos aquele largo era denominado. Abusivamente alguns estacionamentos desse local têm sido ocupados de um modo permanente por duas entidades que aí estão instaladas, uma utilizando esses espaços públicos como parque das viaturas que repara, por períodos prolongados - dias e semanas. Mas também, outra instituição vem utilizando lugares públicos de estacionamento, por um longo período de semanas, como se fossem pertença sua. Bem perto, no Campo da Feira, existe um amplo local de estacionamento onde poderiam ser parqueadas essas viaturas, por tempo indeterminado, sem prejuízo de ninguém. Evitar-se-iam as justas críticas de muitos cidadãos face à atitude abusiva que observam.

 

Tiago Paisana

publicado por Café de Lepes às 19:41

29
Jan 11

CABELOS, LOS MEUS CABELOS

 

-Cabelos, los meus cabelos,

el-rei m'enviou por elos.

Madre, que lhis farei?

-Filha, dade-os a el-rei.

 

-Garcetas, las mias garcetas*

el-rei m'enviou por elas,

Madre que lhis farei?

-Filha, dade-as a el-rei.

 

*tranças

 

 

Selecção de Tomás Salavisa

publicado por Café de Lepes às 23:12

28
Jan 11

Estou completamente de acordo com as acções de protesto realizadas por este movimento, inclusive aquela dos caixões, muito significativa do que é a nossa vida actual: a morte é uma boa solução porque, certamente, na próxima reencarnação os portugueses terão melhor sorte. Isto para dizer, pura e simplesmente, que o Governo deve restituir aos colégios privados o montante dos subsídios que lhes retirou. Mas quero acrescentar que o Governo, dentro do mesmo critério de actuação, repondo os subsídios aos colégios, deve reembolsar-me de parte do vencimento que este mês me congelou e manter o montante das deduções em IRS que me eram concedidas em 2010 e não aumentar impostos e taxas que em 2011 agravam o meu salário. Eu, e todos os portugueses, não quero ser o único a arcar com os sacrifícios.

 

David Pires

publicado por Café de Lepes às 15:49

27
Jan 11

Esta tarde (ontem) os filhos de Sophia de Mello Breyner Andresen doaram à Biblioteca Nacional de Portugal o espólio da poetisa, que faleceu em 2004. No decorrer da cerimónia de doação, Miguel Sousa Tavares, um dos seus filhos, afirmou "Num país onde todos reclamam tudo do Estado e ninguém se sente obrigado a dar alguma coisa em troca sabe bem dar alguma coisa ao Estado".

 

Tomás Salavisa

publicado por Café de Lepes às 00:34

PORQUE

 

Porque os outros se mascaram mas tu não

Porque os outros usam a virtude

Para comprar o que não tem perdão.

Porque os outros têm medo mas tu não.

 

Porque os outros são os túmulos caiados

Onde germina calada a podridão.

Porque os outros se calam mas tu não.

 

Porque os outros se compram e se vendem

E os seus gestos dão sempre dividendo.

Porque os outros são hábeis mas tu não.

 

Porque os outros vão à sombra dos abrigos

E tu vais de mãos dadas com os perigos.

Porque os outros calculam mas tu não.

 

Selecção de Tomás Salavisa

publicado por Café de Lepes às 00:30

26
Jan 11

Confirmando o previsível Cavaco Silva foi o vencedor destacado, Outro resultado que não fosse a vitória do actual PR seria um tsunami, Sim, surpresa é José Manuel Coelho ter conseguido mais votos que o comunista Francisco Lopes, Paulatinamente o Partido Comunista vai, nesta Terra, perdendo seguidores, como se pode observar eleição após eleição, Deste acto eleitoral saliento um facto que muito nos deve preocupar, a acentuada quebra de eleitores, Relativamente às últimas eleições autárquicas, ocorridas em finais de 2009, esta Terra perdeu 145 votantes.

 

Mário Aleixo

publicado por Café de Lepes às 11:23

25
Jan 11

Com menos meio milhão de votos, em relação às eleições de 2006, Cavaco Silva foi reeleito para mais cinco anos no Palácio de Belém. De uma eleição em que os abstencionistas atingiram 53,73% e que cerca de 190.000 eleitores votaram num candidato claramente anti-sistema - José Manuel Coelho - saiu um sinal claro de que os Portugueses estão desiludidos com a classe política. No discurso da vitória, Cavaco Silva não foi capaz de esquecer os ferimentos que os casos das acções SLN/BPN e moradia da Coelha, Albufeira, lhe causaram, demonstrou demasiados ódios. Trata-se de questões legítimas que lhe foram colocadas durante a campanha eleitoral, e que, naturalmente, o País espera sejam por ele esclarecidas, tão breve quanto possível.

 

David Pires

publicado por Café de Lepes às 22:36

24
Jan 11

DESENGANADO DO AMOR E DA FORTUNA

 

Fiei-me nos sorrisos da ventura,

Em mimos feminis, como fui louco!

Vi raiar o prazer; porém tão pouco

Momentâneo relâmpago não dura:

 

No meio agora desta selva escura,

Dentro deste penedo húmido e oco,

Pareço, até no tom lúgubre e rouco,

Triste sombra a carpir na sepultura:

 

Que estância para mim tão própria é esta!

Causais-me um doce e fúnebre transporte,

Áridos matos, lôbrega floresta!

 

Ah!, não me roubou tudo a negra sorte:

Inda tenho este abrigo, inda me resta

O pranto, a queixa, a solidão e a morte.

 

Selecção de Tomás Salavisa

publicado por Café de Lepes às 19:29

21
Jan 11

Em tempos que já lá vão as mesas de assembleia de voto eram compostas por representantes das várias forças concorrentes, Era um trabalho militante e por consequência gratuito, A única paga, e não pequena paga, permitia a dispensa do cidadão de comparecer no seu local de trabalho, no dia a seguir às eleições, sem que daí perdesse algum direito, Salário, férias e faltas eram intocáveis, Hoje em dia os cidadãos que constituem as mesas de voto são remunerados, e não é pequena a propina que auferem, Daí parecerem gatos a bofe a arranharem-se pela conquista do lugar.

 

Mário Aleixo

publicado por Café de Lepes às 00:47

20
Jan 11

O Professor que afirma "terão de nascer duas vezes para serem iguais a mim" não está disposto a prestar esclarecimentos sobre a moradia de que é proprietário na Aldeia da Coelha, em Albufeira, e que é vizinha de casas pertencentes a Oliveira e Costa e Fernando Fantasia, ex-dirigentes do BPN.

A escritura da Casa da Gaivota Azul, assim se denomina a moradia de Cavaco Silva, está desaparecida, quer da Conservatória do Registo Predial de Albufeira, quer do cartório notarial da mesma cidade, o que não deixa de ser estranho. O candidato à presidência da República, José Manuel Coelho, afirma hoje "...que a casa da Coelha foi-lhe (Cavaco) oferecida por esses senhores que são seus vizinhos e que a sua anterior campanha eleitoral foi paga pelo BPN...". Também o candidato independente Defensor Moura, pede para (Cavaco) "...esclarecer os portugueses a 100%..." sobre o processo das acções da SLN e da permuta dos terrenos da Coelha. Mas Cavaco Silva faz ouvidos de mercador.

 

David Pires

publicado por Café de Lepes às 19:12

19
Jan 11

Hoje deixo aqui uma sugestão gastronómica, uma deslocação ao "Restaurante Godinho" para apreciar o suculento Cozido à Portuguesa que, às quarta-feiras, ali se confecciona, acompanhado, é imprescindível, por um tinto alentejano. Se escolherem uma mesa estratégica, podem mesmo ouvir as conversas de alguns membros do jet set da política local que, habitualmente, se reúnem naquele estabelecimento aos almoços.

 

Carlos Canas

publicado por Café de Lepes às 11:05

18
Jan 11

SONETO VII

 

São mortos os que nunca acreditaram

Que  esta vida é somente uma passagem,

Um atalho sombrio, uma paisagem

Onde os nossos sentidos se poisaram.

 

São mortos os que nunca alevantaram

De entre escombros a Torre de Menagem

Dos seus sonhos de orgulho e de coragem,

E os que não riram e os que não choraram.

 

Que Deus faça de mim, quando eu morrer,

Quando eu partir para o País da Luz,

A sombra calma de um entardecer,

 

Tombando, em doces pregas de mortalha,

Sobre o teu corpo heróico, posto em cruz,

Na solidão dum campo de batalha!

 

 

Selecção de Tomás Salavisa

 

 

 

 

publicado por Café de Lepes às 23:08

12
Jan 11

No último "Informação - Verde Horizonte", referente a Maio/Junho/Julho de 2010, mas só recentemente distribuído, é apresentada uma reportagem relativa à 10ª. Viagem de Estudo à Europa de jovens estudantes. Refere que o presidente da autarquia desta Terra foi um dos participantes da jornada que tomou doze dias. Acrescenta que o autarca acompanha estas viagens desde o primeiro ano. Deu-me para fazer contas, 10 anos vezes 12 dias (dando de barato que foram sempre 12 dias, nem mais nem menos) representa 120 dias sem trabalhar, em férias, a fazer turismo, com ajudas de custo, hotéis e refeições pagas, e o mais que se adivinha, tudo à custa do erário público. Quando o representante máximo de uma autarquia com assuntos importantes para resolver, dossiês a acompanhar e o mais que se adivinha em tão importantes funções, chuta para o lado a responsabilidade que assumiu perante os seus concidadãos, por uma passeata anual, dá de si uma ideia de irresponsabilidade e aproveitamento dos dinheiros públicos.

 

Tiago Paisana

publicado por Café de Lepes às 01:17

10
Jan 11

"Peço desculpa por falar em português, mas sou um orgulhoso português." Parabéns e obrigado (por Portugal) José Mourinho!

 

David Pires

publicado por Café de Lepes às 22:42

Na edição de hoje do Diário de Noticias pode ler-se que Cavaco Silva, segundo declaração de rendimentos de 2009, recebe de reformas o valor de 10.042 euros. E o abrantino, agora muito conhecido, Eduardo Catroga, recebe da CGA 9.693 euros/mês por ter sido professor universitário.

 

David Pires

publicado por Café de Lepes às 19:32

08
Jan 11

A INVENÇÃO DO AMOR

 

Em todas as esquinas da cidade

nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas

janelas dos autocarros

mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de apa-

relhos de rádio e detergentes

na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém

no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da

nossa esperança de fuga

um cartaz denuncia o nosso amor

 

Em letras enormes do tamanho

do medo da solidão da angústia

um cartaz denuncia que um homem e uma mulher

se encontraram num bar de hotel

numa tarde de chuva

entre zunidos de conversa

e inventaram o amor com caráctar de urgência

deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia

quotidiana

 

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e

fome de ternura

e souberam entender-se sem palavras inúteis

Apenas o silêncio A descoberta A estranheza

de um sorriso natural e inesperado

...

 

Selecção de Tomás Salavisa

 

 

publicado por Café de Lepes às 23:28

07
Jan 11

Há algum tempo referi-me à situação do Museu João Calado Rodrigues que as autoridades desta Terra decidiram extinguir, sem dar cavaco a ninguém. Alertei, especialmente, para os riscos a que o seu valioso espólio está sujeito. Como há dezenas de anos se vem aventando a hipótese da autarquia adquirir aquele belo palacete, pertença da Casa Rebello, agora em ruínas, na Rua Pina Falcão, este seria o momento ideal. A sua compra e recuperação permitiriam, de uma cajadada, resolver alguns problemas, acabar com o aspecto vergonhoso de um magnífico edifício desfazendo-se a cada dia que passa, revitalizar uma zona da vila que está moribunda, poucas pessoas, pouco comércio e, finalmente, reinstalar o nosso genuíno Museu, o Museu que diz algo à alma dos maçaenses e salvar um acervo museológico que, dentro de alguns anos, se terá perdido irremediavelmente.

 

Tiago Paisana

publicado por Café de Lepes às 23:20

06
Jan 11

PONHO A MÃO SOBRE ESPANHA

 

Ponho a mão sobre Espanha e juro

que nunca escreverei seu nome em vão.

Se me sabeis alguma vez perjuro

de Espanha e do seu povo,

decepai-me esta mão.

 

Tradução de Egito Gonçalves - Selecção de Tomás Salavisa

publicado por Café de Lepes às 19:06

05
Jan 11

A imprensa de hoje volta a referir-se às mais valias obtidas por Cavaco Silva e filha no negócio da venda das acções da Sociedade Lusa de Negócios, que controlava o BPN. Fernando Nobre, na entrevista ontem concedida à RTP, afirma que "Cavaco terá de explicar a quem comprou e a quem vendeu as acções".Já Manuel Alegre, ao silêncio do Presidente, reage deste modo, "se tem, como disse, um compromisso com a verdade, terá de responder". Por sua vez, e também segundo os jornais, Francisco Lopes acusa Cavaco de incluir na sua campanha "colaboradores e financiadores responsáveis pela fraude e pelo buraco (do BPN)". A questão anda à volta da afirmação de Cavaco Silva de que "nunca comprou ou vendeu nada ao BPN ou a qualquer das suas empresas". Sendo verdade, como foi efectuada a operação financeira de que resultaram mais valias no montante de 356,9 mil euros, sabendo-se que não foi feita em Bolsa.

 

David Pires

 

publicado por Café de Lepes às 19:55

02
Jan 11

As iluminações de Natal, ainda que modestas, há que reconhecê-lo, são suficientes para marcar a época festiva que atravessamos. Em tempo de crise tudo o que é ostentação e desperdício deve ser eliminado. Há muito em que gastar o dinheiro disponível com mais utilidade, por exemplo, naqueles que agora atravessam dificuldades. Gosto, pois, das iluminações natalícias. Não gosto dos arremedos de presépio por aí implantados. Para estas gentes da Beira Baixa nada dizem e não têm qualquer significado.

 

Tiago Paisana

publicado por Café de Lepes às 19:48

01
Jan 11

ARIANE

 

Ariane é um navio.

Tem mastros, velas e bandeira à proa,

E chegou num dia branco, frio,

A este rio Tejo de Lisboa.

 

Carregado de Sonho, fundeou

Dentro da claridade destas grades...

Cisne de todos, que se foi, voltou

Só para os olhos de quem tem saudades...

 

Foram duas fragatas ver quem era

Um tal milagre assim: era um navio

Que se balança ali à minha espera

Entre gaivotas que se dão no rio.

 

Mas eu é que não pude ainda por meus passos

Sair desta prisão em corpo inteiro.

E levantar a âncora, e cair nos braços

De Ariane, o veleiro

 

Lisboa, Cadeia do Aljube, 1 de Janeiro de 1940

publicado por Café de Lepes às 00:57

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