Botequim ordinário, onde se vendia o café a dez reis cada xícara.

30
Dez 10

Pergunto ao vento que passa

notícias do meu país

e o vento cala a desgraça

o vento nada me diz.

 

Pergunto aos rios que levam

tanto sonho à flor das águas

e os rios não me sossegam

levam sonhos deixam mágoas.

 

Levam sonhos deixam mágoas

ai rios do meu país

minha pátria à flor das águas

para onde vais? Ninguém diz.

 

Se o verde trevo desfolhas

pede notícias e diz

ao trevo das quatro folhas

que morro por meu país.

 

Pergunto à gente que passa

por que vai de olhos no chão.

Silêncio - é tudo o que tem

quem vive na servidão.

 

Vi florir os verdes ramos

direitos e ao céu voltados

E a quem gosta de ter amos

Vi sempre os ombros curvados.

 

E o vento não me diz nada

ninguém diz nada de novo.

Vi minha pátria pregada

nos braços em cruz do povo.

 

Vi meu poema na margem

dos rios que vão pró mar

como quem ama a viagem

mas tem sempre de ficar.

 

Vi navios a partir

(Portugal à flor das águas)

vi minha trova florir

(verdes folhas verdes mágoas).

 

Há quem te queira ignorada

e fale pátria em teu nome.

Eu vi-te crucificada

nos braços negros da fome.

 

E o vento não me diz nada

só o silêncio persiste.

Vi minha pátria parada

à beira de um rio triste.

 

Ninguém diz nada de novo

se notícias vou pedindo

nas mãos vazias do povo

vi minha pátria florindo.

 

E a noite cresce por dentro

dos homens do meus país.

Peço notícias ao vento

e o vento nada me diz.

 

Mas há sempre uma candeia

dentro da própria desgraça

há sempre alguém que semeia

canções no vento que passa.

 

Mesmo na noite mais triste

em tempo de servidão

há sempre alguém que resiste

há sempre alguém que diz não.

 

 

Praça da Canção - 1965

 

 

 

 

 

 

 


 

 

Praça da Canção - 1965

publicado por Café de Lepes às 23:52

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