Botequim ordinário, onde se vendia o café a dez reis cada xícara.

29
Out 10

Aquele edifício construído no Largo dos Combatentes e completamente desenquadrado, em termos arquitectónicos, em relação às construções existentes na sua zona, tem sido objecto de ferozes críticas, com especial enfoque no mundo virtual. Trata-se de uma construção alinhada com o estilo actual da Arquitectura, isto é, prolongadas linhas rectas, janelas simples, despojamento de ornatos, sem cobertura visível, maioritariamente em branco. As mais salientes construções deste tipo surgiram na Expo 98. Nesta Terra a existência daquele prédio simboliza uma época da Arquitectura, aquela que agora vivemos. Já na Rua Francisco Serrano encontram-se duas casas que marcam, distintamente, épocas bem diferenciadas. A bonita moradia com o número 4 - adulterada pelas horrorosas janelas de alumínio - construção do início do século XX, ornada com aqueles belíssimos frisos de azulejos em que ninguém repara e, colada a si, o número 6, num estilo que, à época, deveria ter chocado a sensibilidade de muitos nativos, por tão diferente das construções reinantes e que é um símbolo do que se edificava no País, nos anos 50 do século passado. Outro sinal de uma época é-nos dado pelo prédio número 13 do Largo dos Bombeiros Voluntários, onde, em tempos idos, a Clara Transportes teve sedeada a sua central de camionagem e, actualmente acolhe uma oficina de reparação de automóveis, sendo, talvez, o exemplo do tipo de construção que se fazia nas grandes cidades, por volta dos anos 60, do pretérito século. Deixe-se, pois, em paz o Cubo, símbolo do tempo que vivemos, pedrada no charco relativamente aquilo que por aí se erige, bem preferível àquele horroroso palacete implantado no início da Rua das Fábricas.

publicado por Café de Lepes às 16:31

26
Out 10

Extinguiram-no há um bom par de anos para, em seu lugar, nascer o Museu de Arte Pré-Histórica. É, talvez, caso único em Portugal. Normal é encerrar-se um Museu, durante um período mais ou menos prolongado, a fim de beneficiar de obras de restauro, criar novos espaços ou adaptá-lo às modernas técnicas de museologia, mas nunca para, de uma forma radical, proceder à sua extinção. Só poderia ter acontecido nesta Terra. Não se conhecem as razões do acto e, nem sequer, de quem o decidiu. Não foram dadas explicações aos doadores, sequer à população. Encerrou. Findou. Ponto final. O acervo do MJCR é composto por uma grande quantidade de peças doadas por pessoas ou entidades desta Terra ou a ela ligadas. Não é do conhecimento público que a autarquia investisse de forma substancial no enriquecimento do património do MJCR. Do que não restam dúvidas é que se tratava de um equipamento cultural de grande valia para esta Terra, demasiado parca nesta área. A extinção do MJCR há tantos anos, sem que desde essa data alguém com responsabilidades tenha feito quaisquer declarações relativamente à sua reinstalação noutro local da vila, bem como aos cuidados concedidos para com o seu valioso recheio, tais como, inventariação, depósito em condições de segurança no que concerne aos mais que possíveis ataques de humidades, pragas de roedores e insectos, quer mesmo a eventuais delapidações, é muito estranho. É um silêncio ensurdecedor, que levanta muitas dúvidas. Sabe-se, aliás, que alguns doadores solicitaram a devolução das peças oferecidas ao MJCR por duvidarem do futuro das suas dádivas. Este atentado às raízes culturais do nosso Povo só foi possível pela não existência nesta Terra de uma opinião pública atenta, credível e audível.

publicado por Café de Lepes às 18:56

23
Out 10

Capela da Misericórdia. Na frontaria, sobrepujante ao portal, rasga-se um nicho com a imagem de Santa Maria de Mação. É uma escultura de pedra de Ançã (século XV), inspirada certamente nas oficinas de Coimbra, particularmente marcada pelo expressionismo de certas obras do famoso Mestre das Alhadas, possivelmente chamado Afonso.

 

In "Tesouros de Portugal", edição de 1976

publicado por Café de Lepes às 18:55

19
Out 10

Sabe bem recordar o passado, quando esse tempo não nos deu muita pancada. Nada melhor do que apanhar um velho autocarro, agora já não dos Claras, mas da Rodoviária do Tejo. A tarde estava muito quente, a temperatura rondaria os 40 graus, não seria inferior dentro do veículo. Um pequeno autocarro, apesar da distância no tempo, pouco melhor do que os da antiga empresa de Torres Novas, levar-nos-ia até Abrantes. Poucos passageiros, a três euros e vinte cêntimos cada viagem, não daria para pagar o combustível consumido nos trinta quilómetros de percurso. Atravessámos esta Terra, hora de almoço, daí, talvez, não nos termos cruzado com ninguém. Rumámos em direcção ao Penhascoso, surpreendentemente lobrigámos algumas pessoas. Porém nem sequer parámos, não havia passageiros para entrar. O calor dificilmente se suportava. Não existia ar condicionado. Baforadas de ar quente entravam através da janela aberta no tejadilho. A estrada serpenteava por entre campos recobertos de mato, de tão seco que bastaria um fósforo para atear um imenso braseiro. Aqui e ali surgiam pinheiros a renascer das cinzas dos fogos de 2003. Como é possível, após tantos anos, o que foi uma imensa floresta de pinho e eucalipto, manter-se em tal estado de abandono. Pachorrentamente o nosso transporte atingiu Mouriscas, sem que antes, e parece ser habitual, o motorista não fizesse uma paragem junto à Herdade da Murteira, para encher algumas garrafas na fonte de abundante água, de boa qualidade talvez, a crer pela afluência de utilizadores. Em Mouriscas os viajantes aumentaram, com a entrada de dois casais, um de jovens, o outro de idosos, rumavam à cidade. Casas em ruína, muito do comércio de há trinta anos encerrado, poucas pessoas, enfim, o retrato das aldeias do interior. Com Mouriscas já para trás, passámos junto àquela casa de alterne, que há muitos anos existe em Casal das Mansas(?) quando poucos estabelecimentos do género havia por aí. Então o motorista aproveitou para contar a história de um fulano, já com idade para ter juízo, isto é, pai de filhos, funcionário com um cargo importante numa multinacional da região, que desgraçou a vida por gostar das "artistas" do tal bar, gastando o que tinha e o que não tinha, mais o que não tinha, com as mulheres por quem se ia apaixonando. Pagou os seus desvarios com mais de meia dúzia de anos na cadeia. Agora vive do rendimento mínimo, mas já se sente velho para se meter em novas aventuras, rematou o motorista. Cabe aqui aclarar que nestas viagens, em que os passageiros não atingem a meia dúzia, há sempre conversas entre motorista e viajantes, até porque a estrada de tantas curvas e contra-curvas, obriga a uma velocidade baixíssima, permitindo  o diálogo entre passageiros e condutor. Mirámos o Tejo, as águas correndo pachorrentas em direcção à foz e espreitámos os carris da linha da Beira Baixa, bem junto ao rio. E, finalmente, encalorados e suados alcançámos as Alferraredes, a Velha e a Nova. Para não ser excepção, também Alferrarede mostra imensos sinais de decadência. Os prédios em adiantado estado de degradação abundam. O cinema acabou, embora o edifício se mantenha com evidentes mostras de velhice. Muito comércio encerrou as portas e das bombas da BP só existe uma casa ao abandono. A UFA transferiu-se para o Barreiro há muitos anos e o Simão dos azeites fechou, também já não existe o Matos Tavares, um importante armazém de ferro e ferragens, até os Dragões, clube que já deu cartas no futebol distrital e nacional está agora no mais baixo escalão do distrito. Todavia há as grandes urbanizações, com a maioria dos andares vazios, sinal dos tempos, mas que nada têm a ver com esta viagem. Deixemos pois Alferrarede e prossigamos no velho autocarro da Rodoviária do Tejo em direcção à sede do concelho, nosso destino. Chegados a este ponto a história deixa de ter sentido, pois são tantas e tão profundas as transformações operadas na fresca Abrantes, como a ela se referiu Camões, que ao viajante se torna impossível reconhecer a cidade de há trinta anos. Termine-se, pois, aqui, a narração.

publicado por Café de Lepes às 18:59

15
Out 10

Diz o Oráculo que será o próximo presidente da autarquia desta Terra. Nuno Neto atente na profecia da Divindade.

publicado por Café de Lepes às 19:25

A 700 metros de profundidade, presos por um período de 70 dias, sendo que nos primeiros 17 se desconhecia se estavam vivos. 33 mineiros. Resgatados por obra dos Homens. Homens de várias cores, credos e nações, num esforço conjunto. Mas temos de acreditar, também por obra de Deus, qualquer que Ele seja.

publicado por Café de Lepes às 19:24

MÁRIO VARGAS LLOSA 

 

Os seus donos e administradores são os Bregua, uma família de três pessoas que veio para Lima, da empedrada cidade serrana das inúmeras igrejas, Ayacucho, há mais de trinta anos, e que aqui, oh manes da vida, foi declinando no físico, no económico, no social e até no psíquico, e que, certamente, nesta Cidade dos Reis entregará a sua alma que se transmigrará em peixe, ave ou insecto.

Hoje, a Pensão Colonial vive uma atribulada decadência e os seus clientes são pessoas humildes e insolventes, no melhor dos casos, padrecos provincianos que vêm à capital tratar de assuntos arcebispais, e, no pior, campónias de faces rosadas e olhos de vicunha que guardam as moedas em lenços com rosas e rezam o terço em quíchua.

     

 

Excerto de A Tia Julia e o Escrevedor - Publicações Dom Quixote 1988 

publicado por Café de Lepes às 19:21

13
Out 10

Começa a saber-se agora que o Governo comprou a paz com os professores à custa de 400 milhões de euros aplicados em melhorias salariais. Esta é uma ponta dos sete véus que foi agora descoberta. Outras semelhantes existirão e a seu tempo serão desvendadas. Com esta malbaratada gestão dos dinheiros públicos, não surpreende, o descalabro a que chegaram as contas do Estado.

publicado por Café de Lepes às 00:43

12
Out 10

Ortiga-Gare tem um ícone - a vila Marques. Viajando na Linha da Beira Baixa o avistar do palacete com o seu porte altaneiro e, ao mesmo tempo elegante, naquela cor pouco usual, com o Tejo em contracurva, indica-nos que estamos próximos de Ortiga-Gare. Aquele majestático edifício, apresentando evidentes sinais de ruína, rodeado por um abandonado jardim, onde, quais guardiães, se erguem algumas palmeiras, hoje serve apenas para ninho de cegonhas, que, muitas vezes, com o seu canto distinto, nos puxam o olhar para o imponente casarão. A Ordem dos Arquitectos promoveu o projecto "Arquitectura do Século XX na União Europeia", que visa incentivar o conhecimento da cultura arquitectónica, realçando a sua importância enquanto herança patrimonial europeia. Inspirado na investigação recente da arquitectura nacional do século XX, o projecto coordenado pela Ordem dos Arquitectos, em parceria com a Croácia, Espanha, Estónia, França e Hungria, além de dar a conhecer a arquitectura europeia produzida na Europa ao longo dos últimos 100 anos, pretende contribuir para a definição de uma identidade europeia construída a partir da arquitectura do século XX. Nesse sentido, com a duração  de dois anos, uma exposição itinerante, percorreu aqueles países da União Europeia, mostrando, entre muitas edificações portuguesas, situadas desde o Minho aos Açores, a vila Marques, a casa cor de tijolo, mesmo junto ao caminho de ferro da Beira Baixa, ali, em Ortiga-Gare, infelizmente em estado ruinoso.

publicado por Café de Lepes às 00:28

11
Out 10

DIES IRAE

 

Apetece cantar, mas ninguém canta.

Apetece chorar, mas ninguém chora.

Um fantasma levanta

A mão do medo sobre a nossa hora.

 

Apetece gritar, mas ninguém grita.

Apetece fugir, mas ninguém foge.

Um fantasma limita

Todo o futuro a este dia de hoje.

 

Apetece morrer, mas ninguém morre.

Apetece matar, mas ninguém mata.

Um fantasma percorre

Os motins onde a alma se arrebata.

 

Oh! maldição do tempo em que vivemos,

Sepultura de grandes cinzeladas,

Que deixam ver a vida que não temos

E as angústias paradas!

publicado por Café de Lepes às 00:56

10
Out 10

Em 2006, entre as organizações patronais e as centrais sindicais, foi definido um objectivo para que  em 2011 o salário mínimo nacional atingisse os 500 euros. Em 2009 o smn. valia 450 euros, passando para 475 euros no ano em curso. Em 2011, cumprindo os objectivos determinados há quatro anos, o smn. passaria para 500 euros,  importância que, como facilmente se reconhece, "não dá para mandar cantar um cego", isto é, não permite a quem o aufere atingir um patamar de vida decente. No entretanto, António Saraiva, patrão da CIP, embalado pelas recentes medidas propostas pelo Governo, pede para que o smn. se mantenha no valor actual. O mais lamentável no meio deste ruído é que o Governo, dito socialista, embarque neste grito de lamentações do patrão dos patrões e se prepare para deixar na gaveta os objectivos determinados em 2006.

publicado por Café de Lepes às 00:56

09
Out 10

Arquitecto conceituado. Envendense notável. Homem de esquerda.  Amigo das mais prestigiadas personagens do 25 de Abril, muitas delas visitas frequentes de sua casa em Envendos. Bom e simples. Faleceu em Lisboa, aos 88 anos.

publicado por Café de Lepes às 16:18

08
Out 10

Capela de Santo António. Ergue-se no termo da freguesia e conserva um silhar de azulejos do tipo padrão datado de 1642, proveniente talvez da mesma oficina e fábrica dos que preenchem a nave da igreja matriz.

 

In "Tesouros de Portugal", edição de 1976

publicado por Café de Lepes às 15:48

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