ELEGIA PARA UMA GAIVOTA
Morreu no Mar a gaivota mais esbelta,
a que morava mais alto e trespassava
de claridade as nuvens mais escuras com os olhos.
Flutuam quietas, sobre as águas, suas asas.
Água salgada, benta de tantas mortes angustiosas, aspergiu-a.
E três pás de ar pesado para sempre as viagens lhe vedaram.
Eis que deixou de ser sonho apenas sonhado.
-: É finalmente sonho puro,
sonho que sonha finalmente, asa que dorme vôos.
Cantos de pescadores, embalai-a!
Versos dos poetas, embalai-a!
Brisas, peixes, marés, rumor das velas, embalai-a!
Há na manhã um gosto vago e doce de elegia,
tão misteriosamente, tão insistentemente,
sua presença morta em tudo se anuncia.
Ela vai, sereninha e muito branca,
E a sua morte simples e suavíssima
é a ordem-do-dia na praia e no mar alto.
In "Campo Aberto" - 1950